ARTES
Três obras do mineiro Amilcar de Castro ganham destaque no Rio no próximo mês
Avaliadas em R$ 7 milhões, elas serão expostas no Centro, Leblon e Arpoador
RIO - Uma das esquinas mais movimentadas da cidade, o encontro das avenidas Rio Branco e Presidente Vargas, vai convidar à contemplação a partir do mês que vem. Além das três naves neoclássicas da Igreja da Candelária, o local passará a abrigar um imponente portal de ferro acobreado assinado pelo artista mineiro Amilcar de Castro (1920-2002). Feita em 1997, com altura equivalente a um prédio de dois andares, a escultura monumental, sem título, que hoje está em Nova Lima, Minas Gerais, é uma das três obras do neoconcretista, avaliadas em R$ 7 milhões, que ganharão destaque na paisagem do Rio em junho. As outras, que, somadas ao portal, representarão três características diferentes no trabalho de Amilcar, ficarão em pontos nobres da Zona Sul: Arpoador e final do Leblon.
A chegada das obras monumentais do artista mineiro à cidade nasce da parceria entre o Instituto Amilcar de Castro e a Prefeitura do Rio, articulada pela galerista carioca Silvia Cintra, que desde a morte do artista é a responsável por seu espólio no Rio. E, no que depender dela, as ruas da cidade serão cada vez mais povoadas por arte brasileira.
— Eu quero que essa moda pegue! — brinca Silvia, instigando outros galeristas a seguirem seus passos. — Já não tenho mais nada para provar a ninguém. Minha galeria anda sozinha. Agora está na hora de ver meus artistas plantados na cidade.
Silvia, cuja galeria está completando 30 anos, tem uma ligação especial com Amilcar. O mineiro foi o primeiro artista a ser representado por ela, em 1982.
— Ele foi importantíssimo na minha vida profissional. Além de ter sido um dos meus grandes amigos, me emprestou o olhar e a competência que ele tinha para ver arte e atuar como artista. Foi assim que aprendi a me comportar profissionalmente — conta.
O imenso portal de chapa grossa, corte e dobra vai sair de Nova Lima — cidade mineira onde está sediado o Instituto Amilcar de Castro — e chegar à Avenida Presidente Vargas sob regime de comodato de dois anos, que podem ser renovados.
— Já queríamos colocar algum monumento naquele lugar — diz Carlos Roberto Osorio, secretário de Conservação do Rio, pasta hoje responsável pelas obras de arte públicas. — O portal do Amilcar é perfeito. O local emblemático reforça a obra e vice-versa.
Outra escultura de Amilcar, "Estrela", de 2,40m de diâmetro e que desde 1996 está instalada no Largo das Artes, no Centro, vai ganhar mais visibilidade: será instalada na Praia do Leblon, próxima à estátua do jornalista Zózimo Barrozo do Amaral (1941-1997), homenageado em 2001.
Iole de Freitas quer doar obra para a Lagoa
"Estrela", de 1996, é uma réplica que o artista fez de uma escultura premiada na Bienal de São Paulo de 1953. A original tinha 50 centímetros de diâmetro. A posterior, de chapa de ferro mais fina, mas em escala maior, foi confeccionada justamente sob encomenda da prefeitura.
— O Rio foi uma cidade maravilhosa na vida do meu pai. Foi onde ele fez os melhores amigos e encontrou o movimento do qual fez parte e que culminou no Manifesto Neoconcreto — conta o artista plástico Rodrigo de Castro, responsável pela negociação dos comodatos.
O local escolhido para a obra, em frente à Rua Jerônimo Monteiro, tem significado especial para a família do artista.
— Moramos durante anos nessa rua. É como se colocássemos ali uma placa do tipo "aqui viveu o artista..."—- diz Rodrigo. — O neoconcreto é carioca e nasceu ali. O pessoal ia para aquela casa e bebia, discutia... Tem tudo a ver.
A terceira obra do escultor ainda não foi definida, mas também virá de Nova Lima em regime de comodato e terá características específicas:
— Queremos que seja uma escultura de corte e chapa grossa, com cerca de 30cm de espessura. A ideia é ter três trabalhos de tipos diferentes — explica Rodrigo, que pensou no Arpoador como destino.
Nos planos de Silvia, o Rio deveria ganhar uma espécie de circuito Amilcar de Castro, com outras obras do artista espalhadas pelas ruas.
— Seria lindo, mas não dá — afirma Rodrigo. — Preciso levar as obras para exposições, comercializá-las... Não posso simplesmente doá-las em comodato ao Rio. Três é um número bom e, acredito, o limite.
Silvia, porém, segue empenhada em pôr na cidade obras de grandes nomes que representa. O próximo da lista é a escultora Iole de Freitas, que confirma seu desejo de doar uma obra, em comodato, para o espelho d’água da Lagoa Rodrigo de Freitas — local que abrigou a "Estrela" de Tomie Ohtake, instalada em 1986 e retirada em 1990, degradada por falta de manutenção.
— A intervenção de esculturas contemporâneas no espaço urbano é fundamental para a ampliação cultural do Rio — diz Iole. — Como meu trabalho lida especificamente com essa relação entre arte e arquitetura, acho que é o momento certo para colocá-lo na cidade.
Há dois anos articulando a vinda do portal de Amilcar, Silvia resolveu arcar com os custos de transporte e instalação, já que a negociação com a prefeitura estava difícil:
http://oglobo.globo.com/cultura/tres-obras-do-mineiro-amilcar-de-castro-ganham-destaque-no-rio-no-proximo-mes-4854816